top of page

VAMOS FALAR SOBRE ECONOMIA COLABORATIVA?



O coworking é um exemplo desta tendência mundial com potencial de mudar a sociedade

Tá aí um tema que esperamos ver bastante no blog da Ponto Urbano: a economia colaborativa faz parte do nosso DNA de nossa fundação e de nosso modelo de trabalho. O coworking é um dos exemplos mais fortes para esse novo jeito de organizar a economia, que aos poucos começa a ser mais consciente e questionar o consumo desenfreado e desnecessário para oferecer a opção de colaboração e uso coletivo do que puder ser dividido entre indivíduos com necessidades comuns.

O motivo que leva as pessoas a buscarem alternativas ao consumo tradicional podem ser poupar, interagir com o mundo de outra forma ou até conseguir uma renda extra, como é o caso de diversas famílias que abriram suas casas inteiras ou o acesso a algum cômodo para hóspedes pagantes desconhecidos por um valor muitas vezes melhor do que o de pousadas e hotéis, por meio do Airbnb – uma das mais expoentes startups que opera neste campo da economia colaborativa. Há aqueles que trocam um sofá, um colchão no chão ou uma cama extra em sua residência por tempo de intercâmbio cultural com pessoas adeptos do CouchSurfing – outra rede social com a finalidade de conectar viajantes e anfitriões. Motoristas e caronistas ajudam-se com gastos e logística de viagem usando aplicativos de caronas ou grupos específicos para isso nas redes sociais. Pessoas trabalham em espaços compartilhados como a Ponto Urbano, dividindo a impressora e a recepcionista, e ganham a oportunidade de aumentar o networking, que não teriam caso continuassem em seus home offices. A mídia também começa a mudar: em tempos de comunicação instantânea, os coletivos de imprensa auxiliam na democratização das vozes, garantindo o espaço público para pessoas que seriam ignoradas pelos veículos de massa.

Todos estes exemplos mostram o poder e o alcance da economia colaborativa. Para entender um pouco mais sobre esse fenômeno que ganhou forças no fim dos anos 2000, conversamos com Caio Bianchi, Consultor e Professor de Gestão da Criatividade e Inovação da ESPM. Confira a entrevista:

PU: Qual é o papel que a economia colaborativa pode ter para melhorar a condição econômica em geral?

Caio Bianchi: A economia colaborativa pode ser considerada uma nova perspectiva no padrão tradicional de consumo. Esse conceito é baseado na perspectiva de que o consumo individualizado de bens materiais e materiais não é sustentável em longo prazo, sendo que o compartilhamento de alguns elementos do cotidiano se mostra mais eficaz para um consumo consciente e eficiente. Esse compartilhamento de elementos pode se materializar em torno de diferentes produtos ou serviços, como carros, viagens, estadia, ambiente de trabalho e roupas, por exemplo. Por isso, a economia colaborativa possui um papel relevante para a sustentabilidade (seja ambiental, econômica ou de qualidade de vida, por exemplo) a partir do momento que quebra o paradigma de que o consumo deve acontecer a qualquer custo e sem preocupação com os descartes e ociosidade de produtos. Nesse sentido, se pensarmos em modelos de negócios que se preocupem em minimizar desigualdades sociais (que podem ser educacionais, financeiras, de integração na sociedade ou culturais, por exemplo) por meio do compartilhamento (de experiências, ideias, conhecimento, passeios, por exemplo), conseguimos alcançar essa preocupação. O grande desafio, nesse sentido, é trabalhar a geração de riqueza do modelo de negócio com o alto impacto social que ele pode causar, mas seu potencial é enorme.

PU: De que tipo de impacto estamos falando?

Caio Bianchi: É interessante compreender que a economia colaborativa, naturalmente, já trabalha com a sustentabilidade do consumo, aliada ao conceito de ociosidade. Isso significa que ela se baseia em bens que ficam ociosos quando há apenas um proprietário e que possuem potencial de compartilhamento (o AirBnb é um ótimo exemplo disso). Isso acontece, por exemplo, quando temos um app pioneiro no mercado chamado “Tem Açúcar?” (http://www.temacucar.com/) que nada mais faz do que organizar e estruturar uma prática comum há séculos entre vizinhos. Há alguns empreendimentos da Vitacon em São Paulo que levam o compartilhamento a outro nível, inclusive com carros, quartos de hóspedes e ferramentas oficialmente compartilhados entre os moradores. Apenas nesses dois exemplos, já vemos uma redução massiva do consumo, gerando maior interação social entre indivíduos e ativando a malha social existente.

PU: É necessário ter domínio de tecnologia para tornar possíveis estes compartilhamentos?

Caio Bianchi: Muitas vezes as pessoas acreditam que é necessário um investimento exorbitante ou ideias disruptivas para tornar o ideal de compartilhamento em negócio. Na verdade, se observarmos algumas das grandes inovações atuais (como as iniciativas de compartilhamento ou até mesmo o colaborativismo do Waze), não há enormes avanços no quesito tecnologia. A indústria pode se apropriar dessa ociosidade (inerente a vários bens, como furadeiras, escadas e até carros) para gerar negócios. Acredito que, nesse sentido, é interessante estarmos atentos em como utilizar as tecnologias existentes de maneiras diferentes.

PU: Existe, no seu ponto de vista, uma “elitização” da economia colaborativa que acontece de forma mais sistematizada?

Caio Bianchi: É possível que haja certa elitização em iniciativas mais estruturadas da economia colaborativa por conta da percepção de potencial econômico desse tipo de iniciativa. Porém, se pensarmos nos efeitos da economia colaborativa quando aplicada a uma população menos abastada, há um grande potencial para redução de custos e melhoria da malha social.

PU: Olhando para o contexto geral da economia, você consegue perceber alguma movimentação dos grandes conglomerados empresariais e industriais para se reorganizarem nesta realidade, ou ainda é cedo para dizer que a economia colaborativa está causando mudanças no cenário socioeconômico?

Caio Bianchi: Ainda enxergo a economia colaborativa como incipiente nesse sentido. Há uma movimentação mundial do setor hoteleiro por conta do sucesso do Airbnb, mas vejo como um grande caso isolado. Possivelmente veremos algum efeito em cinco ou dez anos, à medida que os efeitos do consumismo tradicional forem mais evidentes e o compartilhamento se fortalecer como alternativa.

PU: Qual conselho você dá para alguém que tenha uma ideia de economia colaborativa e não saiba como tirá-la do papel?

Caio Bianchi: As pessoas tendem a acreditar que todo e qualquer tipo de inovação ou empreendimento precisa de grandes capitais ou conhecimento disruptivo. No mercado brasileiro podemos observar uma série de iniciativas que fogem desse pré-conceito, como o início do “Tem Açúcar?”, food bikes e a história da Ubra (quando comparamos com o Uber). Nesse sentido, sugiro que as pessoas compartilhem suas ideias com sua rede social mais próxima para verificar a viabilidade e começam pequenos. Além disso, que não associem, necessariamente, tecnologia e grande investimento ao sucesso.

Caio Bianchi é doutorando em inovação internacional (ESPM), mestre em gestão internacional (ESPM) e especialista em negociação internacional (UAM). É docente e pesquisador nas áreas de gestão da criatividade e inovação, economia criativa, cidades criativas, inovação pedagógica, metodologias científicas, internacionalização de empresas e empreendedorismo. Também possui experiência como empreendedor, supervisor audiovisual, produtor cinematográfico, roteirista corporativo, assessor de eventos, consultor de inovação pedagógica e intérprete corporativo trilíngue. <http://lattes.cnpq.br/2996831868295176>

0 comentário
bottom of page